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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mas se...

Mas se tudo que vejo
Não é mais o que vejo quando reabrir os olhos
Em que realidade devo eu acreditar?

E se tudo que me passa
É tudo que passa
Quem sou eu, se não passageiro?

Mas se os tempos são pequenos e mutáveis
Grandes e absolutos são nossos equívocos.

Bela confusão diante dos olhos
Triste alvorecer do dia
Que devemos acordar
Outros e mais velhos.

E todo rio São João que flui
Não é mais o rio São João que fluiu.
Só é mais água
Que inunda minhas lembranças...

só por falar -

Então ele descarta a idéia
Da existência de Deus,
Viver com câimbra no sorriso...
Amassa, despacha,
Qualquer tipo de fé...
Enquanto isso, eu vou vivendo
Como seu tripé...
O Sol não nasce mais refinado
Para todos os lados...
Brinca só com a inconstância
Social e dos pecados...

Acreditar no sobrinho rancor,
Já que sei pai, meu irmão,
É o próprio Amor...
Imagine que o desespero só
Vale na mente...
Já então poetas choram sobre
Um coração demente...
Há milhares de janelas no céu,
Todas desenhadas por crianças
Melecadas de papel...

Entre meus fundamentos,
Santa Maria e o parecer,
O ser e o mostrar, com seu próprio jeito
de se auto-apagar...
Quando tudo parece bem acomodado,
Só resta achar o resquício da verdade,
Quando se quer entender o futuro e o passado,
Está lá você,
Deitado nas entranhas da sociedade...

ao coração que inda pulsa

Ao coração que ainda pulsa,
Coração inválido de uma musa.
Ao coração sem motivos,
Coração de todos os meninos.

Corações maquiados com amor,
Disfarçados de aversão.
Nem sabem mais o que são!
Pobres corações,
Princesas adormecidas
À espera de um não-príncipe.

Almas com corações,
Corações sem almas.
Ondas os levam para outro corpo.
Corpo que os matarão.

Ao coração que não pulsa!
Um brinde!
Uma cesta de maçãs e vinho!
Pessoas sem rosto,
Apenas com corações que ainda pulsam.

Poesia da Alegria Pouco Duradoura

Naquele dia perturbado,
Quando tudo era um nevoeiro nostálgico,
Mas todo desfigurado pelo calor,
A preocupação que embrulhava minha mente
Sumiu naquele momento...

Foi então que, naquele instante, quando
Eu descia a ladeira da minha percepção,
Eu Vi: a roda de pétalas estava
Na minha frente. E havia
Milhares delas! Milhares de rodas,
Que pareciam crianças – leves,
Livres! – que dançavam na minha frente!

Naquele momento eu comecei a subir.
Porque quando Vi, me senti cheio de calor.
(Mas não calor que vinha de fora,
Daquele Sol que arranhava.)
Brilhavam sóis dentro, no meu peito.
E esse calor me fez subir...
Como se houvesse uma escada no céu...
E eu a subia...

Eu não pertencia à nenhuma dessas rodas.
Mas apenas as olhava e todos nós éramos completos
Entre nós, sem um a mais, sem um a menos.
E ninguém me disse, mas eu sabia que o amor que
Vi na minha frente não era meu, mas era Eu.

Entendi que o mundo, todo, era Eu.
Tudo girava – não para, mas comigo –
Em harmonia como deveria ser...
E eu apareci para assistir junto ao céu, aos arbustos,
Junto à tudo – à dança das pétalas que
Começaram o espetáculo no momento certo para
Mim e para todo o Universo.

ao Sol

Lá longe eu vejo o Sol;
Ilumina longe...
Tão longe!
Lá longe eu vejo o Sol;
Ilumina toda minha
Terra...

Aqui perto eu sinto o Sol
E seu carinho-sossegado
E seu sossego-iluminado,
Mas longe...

Aqui perto eu não vejo o
Sol;
Vejo mais: vejo a Lua,
Vejo o oceano escuro
Em cima de mim.
(quase não vejo!)

Lá longe eu vejo um morro.
E atrás dele está o Sol:
Aqui perto é
Cor-de-laranja-amor.
- pertinho do sol Meu.

Lá longe eu vejo o Sol,
Vejo a infância,
Vejo o Sol


Lá longe...

imagination is more important than knowledge


Querido Professor,
Mais uma vez, não me venha
Com esse papo!
Tu sabes que eu já aprendi
A dividir, subtrair...
E até achar uma igualdade!

Pensei ainda que pudesse ser
A Gramática;
Mas eu decorei de Pronomes à
Relatividade!

Caro Professor,
Se tu soubesse – como é importante!
Não sufocar, nem amassar
Quem aprende!
Pois quem aprende precisa vir
Com liberdade...

A liberdade pra beber ou
Achar pão,
A devida liberdade
Injetada na pressão de uma vida sucedida.
(ou ainda!)
A liberdade esquecida e diluída
Por todo jovem
De querer achar um denotativo
Nas entrelinhas de um mapa-múndi...

Eu sempre te digo, Professor,
Que a matéria mais importante,
Não é Marx, não é Einstein,
Nem Platão;
Não é nem Newton, muito menos
O Drummond!
Rasga todas essas fichas,
Cadernetas e rascunhos,
Que só lá fora existe o punho de verdade,
Consumida em um eclipse ou
Numa volta em torno
Ao Sol...
À Má Si O

Amigo é aquela coisa assim, non
Sense, totally abstrata, pouco jeitosa,
Difícil de se entender,
E mais ainda de segurar.
(como um bom punhado de areia –
Sem formato, nem cheiro)

Amigo é aquilo lá, que pouco recebe
Declarações-bomba-tudo-cor-de-rosa,
Mas que é bom entendedor, nem meia palavra
É precisa para acalmar seu espírito de amigo.

Amigo é espírito calmo, amigo é inimigo
Das tuas paixões, mas não é inimigo do teu sexo,
Já que desconhece qualquer impureza
De gente grande com cabeça
Estrume-de-cavalo.

Amigo é um quadro psicodélico,
Velha-guarda, que Gogh retrataria
Einstein e borboletas-estrelas-que-
-implodem-no-coração.
(mas explodem nas bocas cheias de vontade
De boca de amigo)

Amigo é a teoria da Relatividade, do tempo elástico, desconhecedor do Darwinismo e do teorema de Pitágoras.
Amigo só.
A água salgada mistura-se ao escarro do teu berro e fica. Fica grudado nos olhos a sombra do tufo de cabelos. Fica no esgoto, fica você.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não demorou mais que dois ou quatro passos - não me lembro ao certo - para que seu coração bombeasse algo que não era sangue:
- Tâmis! disse num grito comprimido, evidente pela coloração pimenta de suas maçãs do rosto.
Ele veio. E fez-se de seu rosto uma deformação agradável chamada sorriso. 

Mais Amor Retido no canTINHO do coração


Que saudades do dia que
O pássaro branco, das penas longas,
pousou na minha janela.
Que veio sereno, calmo como num
dia qualquer.

Que o pássaro mostrou à mim tudo:
a vida como ela é.
A vida dos amores, dos poetas
e da Saudade.
(Da Saudade infinita que tenho
e que todos têm.)

Naqueles dias as penas longas do pássaro
branco, - a paz - brilhavam para mim,
pois eu via aquele cantar tranquilo
e me apaixonei.
O cantar tocava minha mão, com sua
voz de veludo e me
mostrava
contros-de-fada e preás e
seca e morenas de olhos
cor-de-mel.

O pássaro branco foi
mais do que pra mim
a vida é.
Pois a vida estava
no pássaro branco das
penas longas.

O pássaro branco me tirou
da escravidão de olhar
pela janela e me levou
à um passeio em torno ao Universo.

Foi então que ele, em sua
tranquila fala, me convidou
para Amar.

E me deixou.

Passarinho, passarinho branco,
vai voar em paz n’outro cantinho desse mundo…