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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Escrever sobre o amor!
Vamos escrever sobre o amor,
sobre nossos melodramas diários,
sentimentos doentes e contagiantes!

Vamos escrever um imenso livro sobre o amor!
E ainda!
Vamos lê-lo para sempre!
Vamos? O amor é tão fácil, tão sedutor!

Vamos escrever sobre os travesseiros molhados, sobre os carteiros mal-amados, sobre os meninos que buscam o que há debaixo da saia!
Amor!

Sim: mas antes de escrever sobre o Amor,
Com dificuldade
retiro- me da minha posição de amante,
Desse modo O enxergo de longe
Mesmo que assim fique repleto de dor por estar longe do sentimento do mundo,
Mas finalmente posso admirar sua verdadeira beleza.

Os amantes não sabem o quanto os poetas os acham maravilhosos.

Um Bruto

Sou poeta e dono de dois mundos.
Tenho a definição exata de poesia
e guardo-a no bolso rasgado da calça.
Sou poeta, torto, desgrenhado,
Minhas linhas são todas erradas.

Sou poeta,
dono absurdo de pequenos insetos
de às vezes duas ou três patas
um viveiro de palavras.

Sou poeta,
esclarecedor do mundo, o iluminismo
da existência:
flor, borboleta sem asas;
mel, aguardente das abelhas;
poesia, ópio do alterego humano.

Sou poeta,
bêbado mal-vestido que adotou
uns bares que não tem dinheiro para comprar cadeiras,
bebo em pé nos balcões das dores do mundo
as gotas revolucionárias de uma ditadura mental.

Sou um animal!
O pior deles, não tenho razão,
sou um absurdo mesológico
Não aguento nada que me é oferecido,
devoro grotescamente carnes mal-amadas
e ando de bonde em bonde com o umbigo
nu,
Sou um animal e sou o pior deles!

Sou dono de dois mundos
e um deles não me quer:
Eu sou poeta, sou irracional, medonho,
medroso, torto, errado: bruto.