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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Poeta.

O poeta não vive apenas da linguagem elevada, como diz o senso comum.
O poeta é tão humano quanto o médico, o advogado e o economista.
O poeta guarda suas emoções e as vezes a solta e chora, gritando por dentro o nome da mãe.

O poeta também já foi criança e também roubou um pedaço do bolo de laranja da vó,
Já brincou de carrinho e já disse umas péssimas no ouvido da namorada.

O poeta já quis pular de pára-quedas
e o poeta também já desejou ter grana demais nos bolsos pra passar as férias em Marseille.
O poeta já bebeu demais e vomitou no vaso da planta preferida da mãe do amigo do poeta.

Ah! inóculos olhos prisioneiros,
dá-nos algum remédio que nos cure dos preconceitos,
para agarramos de vez estas flores que nasceram no concreto!

O poeta, amigo, escarra!
O poeta é você, mijando no meio da rua!
O poeta perdeu a passagem e ficou esperando o trem de depois!

O poeta somos nós, a todo momento, em cada vão instante!

Mas sabe bem o poeta, que só a arte salva.
Estava sentindo agudas dores de estômago pela desconexão com uma alteridade em particular. Era o amor que nutria, absurdo e secreto, por um moço loiro mediano.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O bruto, nos tempos modernos, deixou de ter um falo e um estômago apenas. O bruto tem, hoje, um bolso e uma mão fechada. Mas o que fica no bruto e que não muda é sua irremediável vontade de apropriar tudo para si mesmo, sem pecar pela prontidão dos ponteiros, nem a concessão do espírito humano. O bruto é um bicho, enfim, que acredita que a liberdade alia-se à posse e ao poder, sem a disciplina e aplicação do conhecimento.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Não falem comigo.

De repente Ele
Chegou. Me
viu sentar nos cantos obtusos
e selvagens de lugares à meia-luz,
só,
e me ofereceu um gole de jazz,
um pedaço de cigarro
Deitou na minha cama,
me chamou devagar.

De repente. Me
abriu as portas dos bares familiares,
que me ofereciam cuidados mentais
e me levou a passear
mãos e peitos unidos,
Deitou na minha cama,
me chamava para amar.

Não falem comigo.

Há pouco. Me
Deitei a cabeça no buraco de um peito amigo
troquei o sentimento do mundo
por tudo que não tem sentido
Chamei-o de meu lar,

Não falem comigo.

- Se já tens Meu beijo, de Ti
agora só espero escarrar?