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sábado, 7 de janeiro de 2012

Sobre a mentira.

Tudo começou com uma grande mentira. E quem diria: a mentira, quando bem dita, quando um tanto quanto repetida, quando bem temperada e reforçada a cada dia, com o esforço e a hipocrisia de quem não quer - mas que inconscientemente deseja que sua mentira se perpetue -
se torna então uma verdade, que aos poucos se incorpora, se assimila seu conteúdo, como se fosse seu e como se sempre tivesse sido real.

A mentira, então, naturalmente se porta como uma novidade, igual àquela que originou a mentira, tornando o que não era possível de ser racionalmente vivido, em algo confortavelmente tragável.

No entanto, a mentira estrangula seu criador, aos poucos, por não ter sido criada como uma filha natural, mas como a adotada.
A mentira, assim, reaparece, hora ou outra, de cara nova, acompanhada da dor de uma descoberta frustrante, que obriga que a realidade seja tão triste; enquanto obriga que a mentira, arquitetonicamente planejada por uma vontade tão verdadeira, seja, afinal, tão bela.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A paixão, como o desejo, são estritamente egoístas. Como se houvesse uma barreira entre você, persona, e o objeto, que devesse ser abrupta e imediatamente destruída. É a vontade da posse incessante, sem razão alguma, apenas guiada pela própria existência dessa vontade. A paixão é como um ser novo que brota n'alma da gente, que está louco por devorar e se multiplicar; como um selvagem, um bruto.
O amor, porém, é o sentimento divino. É todo classe e requintamento: o amor surge com a paz e a razão, e não pretende se apossar do objeto amado. Muito pelo contrário, o amor é o nível em que se alcança a liberdade suprema, em benefício próprio e de outrem. O amor não pretende se não cuidar, adorar e admirar.

O mais perfeito da Natureza é que ela, apesar de nos ter feito bichos, plantou para germinar, em cada homem, a semente do amor, que nos separa do nível da bestialidade e nos aproxima um pouco mais dos deuses.