Pages

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Vi uma árvore.
A árvore tão
pouco árvore.
Tanto árvore
cidade.
Árvore que não
Mário de Andrade.

Era árvore que namorado não
escolhe pra escrever
nome de amizade.
Era árvore aborto
que Natureza se esqueceu
árvore não afinidade.

Árvore do galho pelado
árvore não mocidade
Era árvore
de galho arrebitado
árvore que parece cabelo
de gente velhidade.

Vi uma árvore
árvore nulidade,
Árvore que me pede piedade
de ser árvore opacidade,

- Não posso ser modernidade.
O coração é um selvagem
que ninguém tem coragem de libertar:

Fica amarrado em canto obscuro
pelas rédeas rubras do corpo,
solitário no centro de tudo
esbanjando vida
afinal sem murmuro.

Mas o coração não suporta e pulsa,
pulsa só pra amedrontar,
Não há coração que exista
sem ao menos bufar.

Ai coração, que perigo!
Desfraldo enfim suas correias
e inicio nossa corrida
Ai coração, vou perder os estribos!

O coração é um selvagem,
não aguento e vou lhe desenredar.
Tenho vergonha, oh darling.
Quero um cobertor,
de poesia, feitim.
Quero pra que me
esconda desse ingrato mundim,
que já de

           V
   E
R
       G
    O
           N
    H
             A

me deixou vermelhim.
Cansei debate-papo.
Quero papo só papo.
Cansei de bate saco.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Amarrem mil cordas em meus cílios,
chamem outros mil homens para puxá-las:
Abram as comportas!
Preciso desesperadamente ver!
Preciso abrir os olhos!
Preciso amar o mundo!

Tenho tanto sono.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Se o sono vem e devora
faça um café:
o mundo está rápido demais
pra querer andar
de marcha à ré.
(Na maior parte dos dias, acontecia
de o tempo demorar pra me encontrar,
os caminhos serem mais longos
e os passos terem menos fôlego.)

Eu andei por toda Higienópolis
e o bairro me sentia lá na Liberdade
- ora se eu não parecia uma estrangeira -
Who who who cares?

Cada indivíduo me olha e não diria
que me assola um terremoto
com escala máxima de Richter:
Um passo e outro parecendo que eu
queria rachar a Terra - na verdade queria -

- Pessoa, acho que eu poderia...

Porque era um pensamento que esgoelava
neurônio por neurônio
e tanto minha realidade se transfigurou
em um trajeto impaciente
e atemporal.

Ora essa, I was the waterpipes
e por dentro de mim corria
(d)esgo(s)to ácido,
sem ter onde desembocar.
Cadê Paciência?

(Sofro de vermelhidão aguda,
não escondo.)

Olho ao meu redor e vejo uma neblina
que não existe. Alberto Caeiro,
há metafísica demais neste mundo.
Um menino do outro lado da rua:
Sei que está lá mas não vejo.
Estou nervoso.
Não há nada a ser feito, mas quem sabe -

... ter escrito o Livro do Desassossego. -

Nervoso estando não há o que te
possa brecar,
meus olhos apenas enxergam os sinais vermelhos
e quando não isso, que sorte eu dei
de não morrer desligado
atropelado.

de agradecimento à poesia

Se devo a alguém agradecimento
primeiramente é à maçã chilena
que devorei antes de me preparar
pra este poeminha:

Thank you, poesia,
minha criatividade tem sido bem explorada por ti.
Gracias, poesia,
o Mundo tem exalado cores e cheiros diferentes
e tão bons, tudo graças a ti.
Muito obrigada, poesia,
tens me recuperado do mesmo mundo de cheiros e cores,
tens procurado a mão da criatividade que quase morreu
e tens me saciado com pensamentos almofadinha
quando tudo é duro demais.

Mas principalmente:
tens me anestesiado de uma vida (escorregadia) demais.

Is never enough uma maçã.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

11092001

Eram dois caixotes, um do lado do outro, solitários e na espera.
Há quem diga: Os maiores do mundo!
Mas continuam sendo caixotes, em sua plena existência.

E tal como se sabe, caixote só existe se for pra abrigar
banana, mudança, livro velho e sapatos.
Pois aí que se diferenciavam, os tais caixotes...
Por fora não eram diferentes dos outros,
- aliás, eram muito parecidos - 
mas por dentro...
Por dentro traziam uma...
Uma selva, vai lá. 
Agitações, dores-de-cabeça, contas a pagar,
ternos, elevadores...
Todos esses bichos de uma perfeita selva.

Enormes caixotes: 
de tão enormes que eram não tinham como serem derrubados.
Mas aconteceu e é o que dizem...
- Psiu, não conta, mas parece que foi um pássaro, 
desses que american boy não costuma ver todo dia - 
Derrubou os caixotes.

Não sei, não vi, mas dizem que foi um grande espetáculo:
primeiro, leves, foram brotando pétalas do caixote,
que flutuaram até abraçar o chão.
Depois, parece que da selva 
se formou uma rosa meio estranha, alaranjada,
sem perfume nem forma exata,
toda fumaça e destruição.