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sábado, 17 de setembro de 2011

O Trapezista

Correu!

E quanto mais a nuvem vinha mais a nuvem escurecia a escura face do menino e 
correu, correu que seu lenço desamarrou e a nuvem engoliu e
correu, correu que suas pernas rotas e seu destino coxo não aguentou
e parou,
e a Bahia toda olhou

e correu
correu que o ar se abriu no meio
um pássaro zombou
por uma folha
passou

"Se jogou"
e nem anjos
nem ódio algum
nem ninguém
correu mais
que SemPernas
correu
pra cair
da montanha
onde
em seu leito

morreu.
eu não sei quando eu maldisse a vida
pra tanto destrato eu dela receber.
me aproximo, ela afasta,
depois resmunga baixinho
que não to feitinho pra ela

mas o que é que eu fiz pra ela,
não sei.
só sei que quando chego perto
ela fica meio assim
tímida, cheia de ternura,
nem me olha nos olhos.

e o que acontece é que se a vejo de longe,
lá está ela, 
a serviço de mãos alheias.
e, olha, mesmo quando, no grande momento, chegou ela pra mim,
não foi:
bastou poucas linhas tortas e me deixou.

ai, menina,
a poesia só teima em fugir de mim...
mas foi bem assim que encontrei nela

minha primeira namorada.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Eu sonho com esse mundo em que as coisas podem ser as coisas, propriamente falando, sem que seus motivos sejam questionados.
Sonho com um mundo que os pássaros voem, sem que haja alguém que se pergunte se são felizes por estarem mais perto do céu.
Sonho com um mundo que as flores não recebam mil adjetivos e que cheirem apenas como flores.
Sonho com um mundo que os namorados não entreguem a Lua como promessas de seus amores.
Sonho com um mundo que tudo fique mais simples, sem perder a beleza de ser o que é.
God, as a common thing, is what we're all looking for while we pray and ask forgiveness, and God is what we use as an explanation for what is Unkown.
but God, in my view, is what I feel when I close my eyes after a long, hard day of work. God is what touches me deep when I decide to make an important decision. And God is what, besides don't knowing it at the moment, stays close to me when I walk, and when I fall, He's the one to help me stand up. I feel blessed not because I want to be loved, nor I need to accumulate faith, but because love is all that surrounds my soul.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Era um menino miudo, mulato e sorridente que resolveu sentar ao meu lado no ônibus. Estava eufórico enquanto sua tutora ainda passava pela catraca. Ela, ao perceber que não haveria lugar perto do seu pequeno, sentou-se no assento à frente. Mas o menino não sossegava; ora virava de um lado, tentava deitar desengonçadamente, virava pro outro, cruzava as pernas. "Tia, posso sentar no seu colo?", eis que a tutora logo responde que não, que carregava sacolas demais e que um menino não caberia. "Mas, tia, eu quero ser o mais alto do ônibus! Me deixa sentar no seu colo, vai?" e ela, firme, negava seu pedido. Não me aguentei, pensei em todas minhas fantasias de criança, todas as lembranças dessa imaginação avidamente criativa de quando se é menor e ofereci meu colo ao mulatinho. Os olhos dele se encheram de brilho e virou-se para sua tutora com olhar de permissão. Obviamente ela não conssentiu. Olhei para o garoto, frustrado, e sorri.
Dois passageiros largaram seu lugar mais a frente do ônibus e o menino correu para guardá-los. A tutora foi logo atrás dele e sentaram-se. Bastou que ela largasse suas sacolas no chão e o menino fugaz partiu para seu colo e a abraçou. "Tô mais alto que todo mundo aqui!"
Me desliguei dos dois. Quando meus olhos pousaram de novo naquele lugar com o miudinho, pude ouvir "Tia, você não tem medo de ficar sozinha?", quando adulto, na realidade, tem medo de contar a verdade para coraçõezinhos tão puros. Negou. O menino deitou a cabeça sobre os ombros dela. Ela sentiu seu peso e afagou-o. "Eu tenho medo de ficar sozinho, tia. Tenho muito medo."

domingo, 11 de setembro de 2011

Sinto um nervoso
uma rajada que congela a espinha
frio que me arde o corpo,

e é como se a morte estivesse,
tão mansa,
me devorando
pouco a pouco

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mundo, mundo, vasto mundo

acho que amo essa vastidão
que não é minha
que fora de mim é tudo,
que começa quando
termina minha pele,

que é
anti-eu,
mundo.