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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Era um menino miudo, mulato e sorridente que resolveu sentar ao meu lado no ônibus. Estava eufórico enquanto sua tutora ainda passava pela catraca. Ela, ao perceber que não haveria lugar perto do seu pequeno, sentou-se no assento à frente. Mas o menino não sossegava; ora virava de um lado, tentava deitar desengonçadamente, virava pro outro, cruzava as pernas. "Tia, posso sentar no seu colo?", eis que a tutora logo responde que não, que carregava sacolas demais e que um menino não caberia. "Mas, tia, eu quero ser o mais alto do ônibus! Me deixa sentar no seu colo, vai?" e ela, firme, negava seu pedido. Não me aguentei, pensei em todas minhas fantasias de criança, todas as lembranças dessa imaginação avidamente criativa de quando se é menor e ofereci meu colo ao mulatinho. Os olhos dele se encheram de brilho e virou-se para sua tutora com olhar de permissão. Obviamente ela não conssentiu. Olhei para o garoto, frustrado, e sorri.
Dois passageiros largaram seu lugar mais a frente do ônibus e o menino correu para guardá-los. A tutora foi logo atrás dele e sentaram-se. Bastou que ela largasse suas sacolas no chão e o menino fugaz partiu para seu colo e a abraçou. "Tô mais alto que todo mundo aqui!"
Me desliguei dos dois. Quando meus olhos pousaram de novo naquele lugar com o miudinho, pude ouvir "Tia, você não tem medo de ficar sozinha?", quando adulto, na realidade, tem medo de contar a verdade para coraçõezinhos tão puros. Negou. O menino deitou a cabeça sobre os ombros dela. Ela sentiu seu peso e afagou-o. "Eu tenho medo de ficar sozinho, tia. Tenho muito medo."

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