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quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Maurício era um homem sem corpo. Porque Maurício não precisava dele. Só precisava de sua mente. Estava tudo guardadinho em sua cachimônia. O resto era resto.
Maurício inventou o mundo. Mas Maurício nunca precisou do mundo. O mundo estava em sua mente. E quando o concluiu, foi bem aplaudido. 
Maurício sorriu.
Maurício não precisava de mais nada. Roupas? Pra que, se ele não tinha corpo?  Comida, jogos? Ele não precisava.
Maurício só tinha seus sentidos: aguçadíssimos, por sinal. E com eles, Maurício tinha tudo por perto. Na verdade, tudo estava tão perto dele que poderia se dizer que tudo estava nele.
Certa vez, Maurício inventou um diabo. E se tornou inteiro vermelho, de olhos flamejantes e com uma cauda de serras cortantes. Mas Maurício não gostou do jeito que se viu. E logo inventou o anjo. Brincou com sua harpa, acariciou suas asas com as delicadas mãos de anjo… E voltou a ser Maurício.
Por que ser algo que não é Maurício? Maurício era ser tudo.
Maurício conseguia inventar sinfonias com tanta destreza quanto Mozart e conseguia desabrochar como um lírio.
Maurício tinha mãos, pés, barriga, pernas… Era um ser humano completo e comum. Mas não se pode dizer que ele era comum. Era tão singular, Maurício. Só ele tinha o mundo consigo. Mas o compartilhava conosco mediante à arte de ser Maurício.


Dedicado à Maurício Soares Filho, querido professor de literatura. 

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